Foi André de Albuquerque Maranhão uma das figuras de maior relevo na história do Rio Grande do Norte, reconhecido como o líder republicano da revolta antimonarquista em 1817. O homem mais rico da Capitania sempre provocou suspeitas sobre seu envolvimento em um movimento tão pouco provável. Do pedestal em que vivia, não poderia entrar em uma disputa para sofrer tão ruidosa derrota. Seu malogro causou profunda reviravolta no equilíbrio social do seu tempo.
Andrezinho, como muitos costumavam chamar, sendo da família mais abastada do lugar, não teria estudado na Europa. Conheceu Lisboa. Mas seus centros mais avançados nos negócios, educação e na política foram Natal, Recife e Rio de Janeiro. Teria sido apontado como um dos participantes da “Conspiração dos Suassunas”, em 1801, movimento que se opunha ao pacto colonial, indicando que suas ideias políticas já estavam alicerçadas antes de voltar à terra natal, em 1806, para assumir a Casa de Cunhau, por morte do seu pai.
No Rio Grande do Norte, André de Albuquerque era muito ligado ao governo metropolitano, pois, com prestígio e riqueza, comandava as tropas milicianas que guardavam as fronteiras entre Rio Grande e Paraíba. Em 1811, recebeu o título de Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e o próprio governador da capitania, José Inácio Borges, o buscou para preparar a resistência quando soube do avanço da revolta dos pernambucanos, de 1817. Ele, sozinho, reuniria mais da metade da Capitania: brancos, índios, negros e mestiços atenderiam ao seu comando sem questionar.
Como poderia falhar? Quem poderia levantar-se contra tal homem?
André pareceu vacilar num primeiro momento, mas o padre Antônio de Albuquerque Montenegro teria lhe cooptado a iniciar e liderar o movimento revolucionário na Capitania. À frente de parentes e oficiais, entrou em Natal, tão triunfante, que os reforços militares, vindos da Paraíba, pareciam dispensáveis. Carregando comodidade e falta de grandes habilidades políticas, governou uma república por 28 dias.
Em 25 de abril, pouco depois do retorno das tropas paraibanas, os monarquistas reagiram e o derrubaram. André estava isolado, devido às divergências com seus apoiadores, e sofria forte pressão do governo português. Culpam padres e maçons por sua escolha fracassada. Como alguém tão rico e ligado à Igreja se deixou influenciar por mudanças tão profundas? A quem teria escutado? Sua mãe, em colapso mortal, teria sucumbido de desgosto ao revelarem-lhe a notícia do seu fatídico falecimento.
André de Albuquerque não era diferente dos homens de sua geração. Na virada do Século XVIII para o XIX, muitos senhores, nas colônias, se sentiam incomodados com as regras do pacto colonial. Em sua maioria, eram proprietários de terras que entraram em contato com as ideias do iluminismo na França e Inglaterra. José de San Martín, Simón Bolívar, George Washington e Thomas Jefferson são bons exemplos para o contexto. Muito embora compartilhassem os ideais de igualdade, foram eles que passaram a controlar o Estado, substituindo os monarcas.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Francisco Galvão
Imagem: Maria Simões