Kate Coutinho de Jesus é bacharel em biblioteconomia pela UFRN, tecnóloga em Agente Comunitário de Saúde. Transitou pelas áreas de ensino e extensão, como bolsista. Em 2018, começou a prestar serviços voluntários ao IHGRN, dedicando-se inteiramente ao Instituto em diversas áreas e setores da instituição. Atualmente, Kate Coutinho é bibliotecária e coordenadora das atividades de biblioteca da instituição. A entrevista foi concedida a Gustavo Sobral e Marcela Bulhões.
HGRN: Em que consiste o trabalho de um bibliotecário em um acervo híbrido como o do IHGRN?
Olhando para a construção histórica da informação e para a sua importância para o estudo, o trabalho do bibliotecário como mediador de informação é de grande relevância para o tratamento e cuidado da informação sobretudo, tendo em vista que vivemos uma realidade a qual qualquer informação é passada ao público muitas vezes sem nenhum trato e cuidado. O fazer biblioteconômico é de suma importância para o IHGRN, tendo em vista que o acervo compõe características históricas e está voltado para a busca e a pesquisa.
IHGRN: Qual a importância e o papel do bibliotecário na organização, guarda e manutenção do acervo?
O acervo do IHGRN é um acervo exclusivamente destinado a pesquisadores, pois o seu acervo se compõe por documentos históricos que por sua datação, antiguidade e unicidade merecem ser preservados. O trabalho bibliotecário é, portanto, extremamente importante para a sua conservação e acessibilidade. Temos um acervo de grande relevância que corrobora a construção histórica da nossa história. Nesse intuito, podemos dizer que a necessidade de organização, guarda e manutenção do acervo é de grande importância. Esses processos tornam a biblioteca mais ágil quanto a busca da informação que está sendo solicitada, mesmo tendo em vista a precariedade atual, não podemos deixar, em nenhum momento, de proteger o acervo das possíveis ações do tempo. Tento ao máximo fazer uso de duas práticas importantes das leis do matemático e bibliotecário indiano Ranganathan (1892-1972): os livros são para serem usados e a biblioteca é um organismo em crescimento.
IHGRN: Quais as principais dificuldades que um bibliotecário encontra nas suas atividades diárias?
Dependendo do lugar de atuação, as dificuldades serão várias. Podem partir do prédio onde está acondicionado o documento, até a forma como o acervo é disposto no local. No trabalho biblioteconômico no IHGRN, as dificuldades são espaço adequado para o armazenamento do acervo e a falta de equipamentos. As estantes, por exemplo, não são adequadas para alguns livros extensos e também não há móveis específicos para o armazenamento dos outros acervos que temos pelo IHGRN como fotos, moedas, peças de museu, entre outros. Também não há um espaço específico e adequado para o trabalho no processo preservação, conservação e restauração. Quanto aos equipamentos, precisamos hoje de mais computadores para iniciar o processo de descrição e catalogação do acervo, pois só temos dois computadores com o SIABI disponíveis na Instituição. Claro que não é uma reclamação, pois temos que nos adequar a realidade que temos e tentar ao máximo que podemos cuidar desse acervo.
IHGRN: Na sua opinião qual a importância do IHGRN e do seu acervo para o Rio Grande do Norte?
Nossa! Falar do IHGRN para a importância histórica do Rio Grande do Norte é até errado da minha parte, pois faz tão pouco tempo que faço parte da instituição que ainda não me sinto apta a falar. No entanto, como uma pessoa que ama as intituladas “velharias”, vejo Instituto como a casa da memória, pois é aqui que se encontra alguns dos acervos mais antigos que podemos ter quando o assunto é a historicidade do Rio Grande do Norte e também porque o Instituto armazena a história pessoal e política de personalidades que colaboraram para grandes momentos do Rio Grande do Norte. o que me entristece em partes é que o IHGRN é esquecido, pois, para ser bem sincera, eu só passei a conhecer o Instituto e sua importância, depois que vim a trabalhar aqui. Antes disso, eu só ouvia falar. E não eram coisas boas, pois sempre tachavam o IHGRN como o esquecido, que ninguém quer vir visitar, porque não é atrativo, pois todas as peças expostas já foram vistas várias vezes que cansa. Em partes essa frase é verdadeira, pois o IHGRN não faz muito uso das redes sociais e das conexões e parcerias para divulgação para atrair o público e tornar o acervo chamativo. Nesse tempo todo que estou aqui, eu não vi nenhuma vez nada que pudesse entreter o público para vir nos visitar como cartaz, informativos, entre outros. Claro que desde de 2019, não podemos receber visitas devido a pandemia que estamos vivenciando, mas devemos estar preparados ou nos preparando para atrair o público, escolas, comunidades, turistas, entre outros, para conhecer o Instituto.
IHGRN: Quais atividades você desenvolve atualmente na instituição?
Meu trabalho à frente do IHGRN é finalizar a organização do acervo que começou pela separação das duplicatas e triplicata para, em seguida, providenciar a cada livro a passagem pelo processo de higienização. Tão logo higienizado, os livros foram e continuar a ser abrigados nas estantes de forma ordenada. Optamos por organizá-los de acordo com os parâmetros adotados pela Biblioteca Nacional. No entanto, a sinalização para identificação dos livros nas estantes ainda é provisória, mesmo estando dentro das descrições da CDU, pois está escrito todo à mão (foi o meio que encontramos para sinalizar) e, assim, permitir que os voluntários possam encontrar o livro na estante de acordo com o que está listado. O intuito atual é que, com o SIABI, todos os livros, revistas e fotos possam ser catalogados dentro dos padrões oficiais das bibliotecas que é a CDD ou CDU, no nosso caso CDU. Ainda resta a catalogação e armazenamento das fotos e artefatos que precisam ser descritos, sinalizados e inseridos também no SIABI. Estamos trabalhando para poder garantir que essas atividades sejam realizadas. Meu trabalho é prioritariamente atender à necessidade dos usuários e para isso eu preciso tratar e cuidar das informações que temos com zelo.
IHGRN: O que representa participar do processo de organização do acervo do IHGRN?
Isso é difícil de responder! Poderia dizer tanta coisa, mas acredito que a principal delas é tornar o acervo do IHGRN preservado e acessível aos pesquisadores.
O Instituto - 120 anos
Fundado em 1902, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande completará 120 anos em 2022. É a mais antiga instituição cultural potiguar. Abriga a biblioteca, o arquivo e o museu mais longevos em atividade do Estado. Promove exposições, palestras e atividades voltadas à manutenção e divulgação da cultura, história e geografia norte-rio-grandense e publica a sua revista desde 1903, a mais antiga em circulação no Rio Grande do Norte.
A série institucional é alusiva às comemorações dos 120 anos do IHGRN, celebrados em 2022. A instituição, sua fundação e acervo, entre imagens, vídeos, entrevistas e outras produções especiais serão exibidas. Convidamos todos a conhecer o universo do Instituto, a Casa da Memória.
Foto: Maria Simões