segunda-feira, 28 de março de 2022

A inteligência de Manoel Dantas

    O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte guarda em seu acervo o busto de um dos seus maiores colaboradores, o jornalista, fotógrafo, futurista, historiador e geógrafo Manoel Gomes de Medeiros Dantas (1867-1924), redator e diretor do jornal A República, e conferencista de Natal daqui a 50 anos (1909).
    Manoel Dantas, vindo do Acari, terra de seus pais e avós, para estudar na capital, Natal, era republicano e havia frequentado o Atheneu Norte-riograndense, onde concluiu o ginásio. Hóspede dos parentes e conterrâneos, que faziam de cada casa na capital uma embaixada, o seridoense iria, do Atheneu, direto para os bancos da Faculdade de Direito do Recife.
    Manoel Dantas estudou direito na faculdade do Recife, a mais próxima que havia, e se formou em 1890. Sem recursos para adquirir uma coleção de livros de autoria do jurista Clóvis Beviláqua, e julgando a preciosidade do material, comprou cadernos e passou dias e dias na sala da biblioteca copiando, em caligrafia perfeita, a obra magistral.
    Formado, foi promotor público em Jardim do Seridó e Acari. Instalou a Justiça Federal. Foi juiz, diretor de instrução pública, deputado estadual, procurador do Estado e professor de geografia do Atheneu.
    Manoel Dantas construiu uma grande biblioteca, atualizadíssima. Inclusive, com revistas francesas. E nas estantes do Instituto encontram-se essas obras-primas.
    Juvenal Lamartine, dele, disse: “É a mais completa organização jornalística do Rio Grande do Norte”. Deixou história e geografia que se consultam até hoje, publicadas nos jornais que fundou (Diário de Natal e O Estado) e nos que editou (O Povo, em Caicó; e A República, em Natal).  José Augusto Bezerra de Medeiros, sobre Manoel Dantas, escreveu: “poeta, conteur, historiador, advogado, jurista, pedagogo, político, tribuno, jornalista, sobretudo jornalista...”.
    Consta, dito por seu neto, Edgar Dantas, que não dispensava para a sua locomoção, o jumento, que sem precisar de comando, já sabia o destino: a redação do jornal e todos os dias. E foi pelos jornais que narrou um sonho e escreveu a lenda da cidade do Natal. Ele mesmo conta como tudo aconteceu. Natal nasceu da lenda de quando o anjo, no alto da duna, diante de Mascarenhas Homem, disse: “Surge e levanta!”.

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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.

Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Imagem: Maria Simões