Jorge O’Grady de Paiva conseguiu, como poucos, conciliar a fé e a ciência. Natural de Ceará-Mirim, nascido em 26.05.1909, mudou-se muito cedo para o Rio de Janeiro, então capital federal, sendo, lá, conhecido, simplesmente, como padre Jorge.
Além de sacerdote e cientista, a política também despertava o interesse de Jorge O’Grady. Em telegrama de agosto de 1954, enviado ao jornalista Carlos Lacerda, eterno opositor de Getúlio Vargas, O’Grady afirma que parte da responsabilidade pelo atentado da Rua Toneleros, a que Lacerda sofreu e sobreviveu, era dele próprio, pela falta de respeito com que tratava o presidente da República. Dias depois, Vargas dava fim à própria vida.
Quando ele vinha a Natal, era comum fazer conferências sobre o espaço sideral. Além disso, o padre-astrônomo dava entrevista aos jornais de todo o país sobre a corrida espacial entre as duas superpotências da época: Estados Unidos e União Soviética.
Jorge O’Grady é o autor do “Dicionário Brasileiro de Astronomia e Astronáutica”, de 1969, a obra teve boa aceitação em Portugal e em toda a Europa. "Um dicionário pioneiro em toda a bibliografia mundial da matéria", escreveu Tristão de Athaíde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, famoso crítico literário carioca e membro da Academia Brasileira de Letras, em carta enviada ao padre Jorge, e que foi publicada no Diário de Natal, pelo jornalista Aderbal de França, que usava o pseudônimo Danilo.
Francisco Martins lembra que, certa vez, viu um sacerdote usando o clérgima no gabinete do arcebispo de Natal. Era o então cônego Jorge O’Grady de Paiva. A secretária Terezinha Villar tinha-lhe dito que o cônego era natural de Ceará-Mirim.
Teve vez, então, uma rápida conversa com o sacerdote, que muito o marcou. Ao dizer-lhe que tinha familiares naquela cidade, perguntou-lhe se iria lá rever os seus. A resposta, porém, veio vestida de saudades: “Não há mais nenhum parente meu em Ceará-Mirim”. Encerrada a conversa, Martins preparou a entrevista coletiva que o cônego daria à imprensa por ocasião de sua posse na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte guarda, em seu museu, uma maleta com objetos litúrgicos e um solidéu e uma sobrepeliz, vestes católicas, que foram do cônego Jorge O’Grady de Paiva, falecido em 24.01.2001.
Artigo: André Felipe Pignataro e Francisco Martins
Imagens: Maria Simões