Escrever a história, ensina Helio Galvão, é mergulhar nas fontes da documentação ainda não consultada, é coordenar informações dispersas e desfazer equívocos. Galvão é tributário da tradição de que o documento é imprescindível.
E mais que isso, escrever a história é a consulta aos arquivos e bibliotecas, é a leitura atenta, as anotações, um ofício que pode parecer solitário, mas que não existe sem a presença dos entusiastas, as conversas sobre o tema, a ajuda de bibliotecários.
Nada disso passou ao largo do trabalho de Galvão, pago pelo próprio esforço, acima do desânimo, no mergulho profundo no mundo confuso dos cartórios, como observou Cascudo.
“História da Fortaleza da Barra do Rio Grande” do insigne historiador norte-rio-grandense Hélio Galvão (1916-1981), como o nomeia outro insigne da nossa história, Olavo de Medeiros Filho, saiu em primeira edição pelo Ministério da Educação e Cultura em 1977; e em segunda edição pela Fundação Hélio Galvão e Scriptorim Candinha Bezerra, 1999.
É a história rigorosa da Fortaleza de sua criação em contexto da época, construção, medidas, materiais, uso, serventia, ocupação, tomada, abandono, reparos. O autor ainda se importou em reunir um documentário entre cartas, relações, apontamentos, alvarás. O trabalho ainda se faz acompanhar de rica iconografia: mapas, plantas, gravuras, retratos, e um imprescindível índice onomástico e as referências pesquisadas.
Fortaleza e não forte, explica Galvão, porque fortaleza é uma fortificação na entrada de uma praça, para protegê-la; forte é edificação menor em região isolada sem guarnição permanente. A Fortaleza, ainda explica o autor, foi erigida no processo de ocupação do território por ordem Felipe II rei de Espanha e Portugal e a construção teve início no dia dos Reis Magos, 6 de janeiro de 1598. E tudo se fez por trabalho braçal de portugueses e índios.
Galvão ainda apregoa o papel definitivo para Portugal na conquista e defesa da colônia e as funções que a Fortaleza desempenharia: afastamento dos invasores, abrigo para os navios, posto avançado para as jornadas do norte e proteção da barra do Rio Grande. Perfeita e poética é a reconstituição do cenário da cidade naquele tempo, um dos mais belos registros da paisagem natalense.
----
Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral
Imagem: Maria Simões