segunda-feira, 24 de julho de 2023

A Comitiva, passagem por Assú

 
    Em 1861, o presidente da província Pedro Leão Veloso preparou uma comitiva para percorrer o sertão. Foram 44 dias de viagem. E um dos resultados foi a reportagem de Francisco Othílio Álvares da Silva, publicada no jornal o Recreio. Aqui, um trecho da reportagem que narra a passagem por Assú: “Eis-me pois na cidade do Assú, de que tão vantajosamente sempre ouvi falar. Em verdade, a sua localidade é bela, e a edificação, que de presente está amortecida, revela algum gosto. Situação ao norte do rio do mesmo nome, em cujas férteis margens se fazem muitas e variadas plantações, ela oferece mais amplos recursos para a comodidade da vida, do que outros lugares, de que adiante falarei.”

A Comitiva, chegada a Acari
    Em 1861, o presidente da província Pedro Leão Veloso preparou uma comitiva para percorrer o sertão. Foram 44 dias de viagem. E um dos resultados foi a reportagem de Francisco Othílio Álvares da Silva, publicada no jornal o Recreio. Aqui, um trecho da reportagem que narra a chegada da comitiva a Acari:“Às 8 horas da noite do dia 19 chegamos ao Acari já bem massados, encontrando ao entrar da rua o sr. Vigário Thomas Pereira de Araújo, que sendo avisado já às 6 horas que S. Exc. para ali se dirigia, ia ao seu encontro em companhia de mais dois homens. A sua casa foi destinada para nossa hospedagem. Sem pretender ofender o melindre das pessoas que obsequiaram ao Exm. Sr. Presidente e sua comitiva nesta viagem, forçoso é confessar que a jovialidade, franqueza, e maneiras delicadas com que nos tratou o sr. Vigário Thomaz, conquistaram as nossas puras simpatias, o nosso sincero reconhecimento. Enganei-me completamente no juízo que fazia da vila do Acari, supondo ser de péssima edificação; mas não: contém ela 92 casas, sendo bem sofríveis a maior parte delas. Notei porém que muitas estivessem fechadas, mas deram-me a razão disso que é – morarem os donos em suas fazendas ao redor da vila, nas distâncias de 2,3,4, e 5 léguas. Uma matriz de grandes dimensões se está ali construindo, a qual, sendo concluída pelo modo por que deseja o reverendo vigário, será incontestavelmente uma das melhores da província. S. Exc. visitou não só essa obra, como a antiga matriz, a cadeia, e o cemitério, que em relação ao lugar é bom.”

A Comitiva, recepção em Caicó
    Em 1861, o presidente da província Pedro Leão Veloso preparou uma comitiva para percorrer o sertão. Foram 44 dias de viagem. E um dos resultados foi a reportagem de Francisco Othílio Álvares da Silva, publicada no jornal o Recreio. Aqui, um trecho da reportagem que narra a recepção em Caicó, aquele tempo Vila do Príncipe: “ainda distante talvez duas léguas da vila um numeroso concurso de cavaleiros, entre os quais se achavam alguns oficiais da guarda nacional, veio ao encontro de s. Exc; e depois de feitos os cumprimentos de civilidade continuamos a viagem. Está bem visto (discorria eu) que os seridoenses não hão de querer dar barrigada deixando de receber a S. Exc. com foguetes e mais foguetes e principalmente agora que estão festejando a padroeira; entretanto por causa das dúvidas será prudente que quando eu descobrir as casas me demore alguma coisa até ver o que há. Não eram infundados os meus cálculos a esse respeito. Apenas descobri a vila, deixei-me ficar atrás e apeei-me à margem do rio. E o que me dizem? Estive mais de meia hora vendo subirem foguetes em quantidade, intermediados com grandes tiros de roqueira, de que ali ainda se usa durante a festa. Quando vi pouco mais ou menos que tudo se havia acabado, montei então a cavalo e cheguei a vila com o meu coração descansado, encontrando já muita gente que ia para a novena.”

A Comitiva, a festa de Santana em Caicó
    Em 1861, o presidente da província Pedro Leão Veloso preparou uma comitiva para percorrer o sertão. Foram 44 dias de viagem. E um dos resultados foi a reportagem de Francisco Othílio Álvares da Silva, publicada no jornal o Recreio. Aqui, um trecho da reportagem que narra as suas impressões sobre a cidade e a festa de Santana em Vila do Príncipe, hoje, Caicó:  “A vila do Príncipe não há dúvida que é hoje umas das melhores do sertão; e apesar de ser o seu solo minimamente árido, todavia ali não faltavam recursos; por que os seus habitantes empregam todos os esforços afim de lhes serem menos difíceis e penosos os meios de subsistência. O terreno sobre que se acha ela plantada nada tem de agradável, e ao contrário é feio e bastante pedregoso, porém é muito nova e boa a sua edificação. A sua matriz é antiga porém de boa construção; tem menos cômodos do que a da nossa capital, e é mesmo alguma coisa diferente em sua divisão anterior, mas excede-a em asseio. Há um gosto extraordinário na festa da padroeira, e tem ela tanta nomeada que muitas pessoas do centro do Ceará, Paraíba e até mesmo de Pernambuco vão ali passar com suas famílias. Disso fui eu testemunha quando lá estive. Um povo imenso assistia sempre às novenas e às missas cantadas que ali celebram-se durante os dez dias de festa. Talvez se suponha que é exageração minha, mas não; é a pura verdade. Calculou-se e quatro mil pessoas que acompanharam a procissão, inclusive muitas senhoras, que por esse ato não são censuradas em razão de ser costume antigo.”

A Comitiva, aterradora subida à Serra do Martins
    Em 1861, o presidente da província Pedro Leão Veloso preparou uma comitiva para percorrer o sertão. Foram 44 dias de viagem. E um dos resultados foi a reportagem de Francisco Othílio Álvares da Silva, publicada no jornal o Recreio. Aqui, um trecho da reportagem que narra a subida a Serra do Martins:“A pintura aterradora que me haviam feito da subida da serra do Martins, muito me desanimava, e tão prevenido estava a esse respeito que, quando me chamaram para montar a cavalo, senti uma tão forte emoção como se estivesse adivinhando um sinistro. E que calafrios não senti eu quando cheguei ao princípio da ladeira?! Como porém ia em companhia de dois homens, que como eu havia ficado mais atrás, animei-me um pouco. É com bem razão que muitas vezes se diz que o diabo não é tão feio como o pintam; este chistoso dito é bem aplicável ao que me disseram da ladeira do Martins, a qual nada tem que faça arrepiar, e ao contrário é maravilhosamente acessível.”.  Jornal O Recreio, Natal, 06 de outubro de 1861. A imagem, meramente ilustrativa, é uma parte do mapa do Rio Grande do Norte, que estará completo na última publicação desta série de trechos das “Recordações de Viagem” de Francisco Othílio Álvares da Silva.

A Comitiva
    Aqui termina a primeira série de publicações acerca da Comitiva do presidente da Província Leão Veloso saiu para uma viagem de 44 dias pelo sertão do Rio Grande do Norte. Foram e voltaram de navio e percorreram o sertão a cavalo. Agora, em 2023, Honório de Medeiros, André Felipe Pignataro e Gustavo Sobral pretendem refazer o itinerário em uma Comitiva do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte que pretende refazer o percurso em viagens de quatro dias e aos mesmos pontos visitados pela comitiva de Veloso. A primeira etapa da viagem está marcada para 27 de julho, com saída de Natal rumo à Macau, seguindo o itinerário. O mais é aguardar os relatos da viagem.

Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), mais antiga instituição cultural do Estado, fundada em 1902, abriga biblioteca, arquivo e museu. 
Honório de Medeiros é professor de Filosofia do Direito e Direito Constitucional, ensaísta, escritor, autor de Poder Político e Direito, Massilon e História de Cangaceiros e Coronéis.  
André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes é advogado e pesquisador, diretor de pesquisa do IHGRN. 
Gustavo Sobral é jornalista e escritor, tudo que escreve e publica está no site pessoal gustavosobral.com.br.