quarta-feira, 29 de maio de 2024

Professor Francisco Costa concede entrevista ao IHGRN

 
IHGRN: O senhor é sócio do IHGRN desde quando?

Francisco Costa: Desde 2018.
 
IHGRN: O senhor é sócio de outras instituições também, certo? A exemplo da Academia Assuense de Letras.

Francisco Costa: Isso, eu sou um dos sócios fundadores da Academia Assuense de Letras. Fundamos em 2015 e fomos sete pessoas, poetas, artistas, músicos, pesquisadores e fundamos a Academia Assuense de Letras. Hoje já vai com seus 11 anos de atividade. E a partir da AAL, quando eu estava na presidência, fui convidado para integrar os quadros do Instituto Histórico. Isso me dá muita honra. 

IHGRN: O que significa pro senhor ser sócio de uma instituição como o IHGRN?

Francisco Costa: Ser sócio do Instituto representa, primeiro, a responsabilidade com a preservação da história do nosso estado, com a preservação da memória desse estado. Costuma-se dizer que o brasileiro tem memória curta, né? E é necessário que abnegadas pessoas com o mesmo desejo de estar assegurando que as futuras gerações possam ter conhecimento do que foi o passado, porque não existe uma sociedade sem que conheça de sua origem, sem que conheça de onde ela veio e quais caminhos percorreu. Então ser membro, ser sócio do Instituto Histórico Rio Grande do Norte pra mim, antes de uma honra, é uma grande responsabilidade. E obviamente a honra de fazer parte, de integrar esta casa centenária que ao longo de sua história tem tido esse cuidado e esse zelo com a história do do meu estado, com a história da minha terra, com a história do meu povo, com os elementos que constituem esse povo, então ser sócio do Instituto Histórico é uma honra, mas também uma grande responsabilidade e isso me faz muito feliz. Me traz muito prazer; prova prática disso é esse lançamento (do livro) acontecer aqui.

IHGRN: É também a história da sua terra, que é a história do RN, certo?

Francisco Costa: Exato, é verdade. Foi uma das minhas preocupações, que pudesse fazer um momento desse lançamento no Instituto Histórico; pra mim é tão valoroso. Então não é uma questão de espaço, é uma questão de identidade, né? De trazer para a instituição esse elemento cultural que é a poesia. A poesia da minha terra, cidade do Assu, da minha origem e é ter no meu currículo um lançamento realizado no Instituto Histórico, não que me faça melhor, mas com certeza de alguma forma sim me faz melhor, porque me faz ter a consciência plena da importância que essa instituição tem e quanto isso agrega ao meu próprio conhecimento, o quanto isso agrega, à própria história da minha cidade, o quanto isso agrega à história do estado do Rio Grande do Norte.

IHGRN: E esse lançamento aqui pega numa coisa que falamos no Instituto, que é o processo de interiorização, de trazer mais pra perto as cidades que não são tão próximas de Natal, para não ficarmos limitados à capital.

Francisco Costa: Exato. A gente vai perceber o seguinte o quanto ao longo da história essa divisão geográfica sempre foi um impedimento para esse entrelaçamento entre os dois povos. E aí essa preocupação que o Instituto Histórico tem de trazer para o seu seio e chamar essa responsabilidade de ser esse elemento agregador da história do estado. Isso é muito interessante. Então dentro das suas prerrogativas o Instituto assume esse papel de agregar historicamente todo o estado reduzindo distâncias. Eu diria até eliminando qualquer tipo de barreira. Porque ao momento em que eu trago por exemplo elementos históricos de pessoas, de acontecimentos da cidade do Assu. Para o Instituto Histórico, na verdade eu estou levando o assunto para todo o estado. E o elo é norteador, o elo que de ligação entre esses esses municípios de 177 municípios é exatamente o Instituto Histórico. É muito importante mostrar para os meus netos, os netos dos meus netos o que era a minha terra, o que é a minha terra e o que poderá ser a partir do conhecimento da sua própria história. Então, nesse nível, como trago assim, elementos a uma pessoa que eu gostaria de destacar que eu acho que é muito relevante pra história do que apesar de não segurar nos livros, não figurar no Atlas, nos compêndios da história assuense. Rock é uma figura típica do assuense. Negro, pobre, cego total, mas pessoa que conhecia cada espaço da cidade do Assu, cada elemento que compõe o espaço geográfico do Assu e era uma pessoa que tinha uma capacidade de olhar pra nenhum relógio, ele dizia exatamente em que horário estava. Ele era incrível, Rock desencarnou, faleceu há algum tempo, mas a sua verve e a sua história de negro que foi capaz de vencer todo o preconceito de vencer toda a o estigma do negro no Brasil, na região nordeste, na cidade do Assu. Olha que o negro assuense nos anos 40, 50, 60, 70 e acho que até 80, mais ou menos, era uma figura muito estigmatizada. Então Rock foi capaz de vencer tudo isso e, ao vencer, dar exemplo para as futuras gerações.

IHGRN: E sua atuação também envolve a área de linguagem, né?

Francisco Costa: É, a minha formação inicial acadêmica é em Letras. O mestrado também em letras e o doutorado em educação também, mas também envolvendo a questão linguística. Trabalho muito com essa perspectiva de resgate de línguas é um trabalho que a gente apresentou recentemente no Instituto Histórico foi a questão do iorubá, língua presente na comunidade quilombola do Piató. Apresentar esse trabalho é apresentar uma pesquisa que ainda está em desenvolvimento, porque assim, há outros elementos que a gente precisa, outras vertentes que ainda precisam ser descobertas e eu gosto muito dessa coisa do resgate da linguagem dos povos originários, o resgate da linguagem do entorno da cidade do Assu, especificamente. As variações linguísticas que ocorrem ao longo do tempo e ao longo da história do povo do Assu. Desde o da língua portuguesa arcaica, a língua hoje com o incremento do “interneteiro” dentro da da própria linguagem tem algumas aberrações, a gente sabe que isso é uma realidade, mas é necessário compreender esses fenômenos linguísticos e essa é uma das preocupações que a gente tem também com a nossa atuação, é de buscar e de resgatar isso. E resgatar principalmente a questão poética. A poética do como é que essa poesia se implanta, como é que ela se forma pra dizer que o Assu é a terra da poesia, é Athenas norte-rio-grandense. Então na nossa atuação cultural, poética e também tem essa preocupação de resgatar esses elementos trazendo a poesia desde as dos mais longínquos tempos passando por grandes nomes da poesia, no Açu crescida como Renato Caldas, como Chico Traíra, como é Moisés como sinhazinha Wanderley, Palmeira Wanderley, Luiz Carlos e tantos e tantos outros nomes inclusive dos atuais, né? Que aí eu destaco o Ivan Pinheiro, Francisco de Assis Medeiros, Núbia Frutuoso, Isabel, uma grandíssima poetisa que é a outra autora que está lançando hoje, que também é da também é da academia de letras. Na nossa atuação, a gente busca realmente trazer essa perspectiva da história da linguagem e do resgate para que a seja uma peça de ser a terra. A gente tem a preocupação de dizer não, assumem a terra do jateiro, teve mas tem e semeia para que no futuro também o tenha. Inclusive esse é um dos grandes papeis da Academia Assuense de Letras que é o da questão cultural, esse amor à terra através da poesia, através da cultura, através da literatura, através das artes, da música, do teatro, de todas as expressões artísticas para que as futuras gerações possam dizer.

IHGRN: A gente fez uma entrevista com o Ciro Pedroza e ele disse como é importante ele participar  da próxima edição do programa Memória Viva. Ele estava comentando como é importante exaltar também a importância de quem está vivo, não esperar a pessoa morrer para dar devido valor àquilo, né? 

Francisco Costa: Verdade. Não lembro se é Pixinguinha ou quem tem uma uma música que diz que “quando eu morrer não quero choro nem vela”. Né? E aí não, depois que eu morrer as homenagens já foram, né? Não que eu busque homenagens hoje. Mas, que haja esse reconhecimento de quem tá vivo. E é muito interessante como a área da linguagem não consegue ser pesquisada se não tiver a parte histórica também, né? Sim, é verdade. De de ir mapeando as alterações que ela tem, o que tanto influencia naquilo. A história ela jamais está dissociada da linguagem, porque a linguagem é dinâmica, ela o tempo inteiro ela está em processo de autotransformação de  burilamento, de autoconstrução continuamente e essa linha vai estar passando por processos e tudo isso ela se configura num fato histórico. Então quando você pega, por exemplo, vamos pensar na linguagem que era falada lá nos anos de 1800. Como é que ela era escrita? O que mudou ao longo do percurso histórico, né? E qual que elementos foram importantes para essa mudança dessa própria linguagem? Então a linguagem está associada, ela está intimamente, está imbricada com a história no dissociamento, qualquer tentativa de dissociar linguagem e história seria uma aberração com a própria realidade.