O museu do Instituto guarda algumas peças que marcam, para que não se esqueça, o nefasto período da escravidão no Rio Grande do Norte. Período longo e degradante da história colonial e imperial do Brasil.
Os historiadores apontam que os primeiros escravizados africanos no Rio Grande do Norte, vieram de Pernambuco para trabalho forçado nos engenhos de açúcar, e para servir na pecuária e nas lavouras de algodão no sertão. Na segunda metade do século XIX, foram também trazidos do Maranhão, desembarcados nos portos de Areia Branca e Macau, para trabalhos forçados nas salinas do litoral norte.
Na varanda do Instituto, o pelourinho da cidade do Natal é um dos marcos da violência da escravidão. Coluna de pedra do tempo do Brasil Colônia, era utilizada para punição. Também chamada picota, servia a outros usos. Editais e proclamações oficiais eram nela afixados para serem lidos, entre açoites de condenados, enforcamentos e exposição de cabeças de executados. O pelourinho chegava a quatro metros, e, nele, argolas para aplicação de maus tratos e ganchos para pendurar as cabeças degoladas.
Fixado no largo da Casa da Câmara e Cadeia, há notícias de sua existência em 1696 e de reparos em 1732. Cascudo colheu e anotou que no seu alto havia um globo de argamassa com as armas reais de Portugal. Na segunda metade do século XIX, foi retirado e passou a servir de banco de sentar para os soldados da Cadeia Pública, até passar ao Instituto, em 1904, e ser remetido à Praça André de Albuquerque, nos anos 1940. Definitivamente, passou ao Instituto em 1963, por doação do Município de Natal, e, até hoje, está exposto ao lado da porta de entrada da instituição.
O pelourinho era apenas um dos tantos utensílios, não só para prender e subjugar o escravizado, mas, também, para puni-lo e humilhá-lo. Ferreiros fabricavam correntes e outros instrumentos para subjugação e maus tratos. O chicote era o instrumento básico de opressão. Correntes, gargalheiras e gotilhas eram postas no pescoço; algemas, machos e peias, nos pés e mãos; e o viramundo, para pés e braços.
Além desses, havia a máscara de Flandres e os anéis de ferro, chamados anjinhos, para comprimir os polegares; os instrumentos para as surras e açoites que eram o tronco e os chicotes; e, para os demais castigos, palmatórias. Ferros quentes marcavam um F nos escravos chamados fujões. Os pulsos prendiam-se com algemas, e os tornozelos com a peia. No Instituto, há algumas destas peças que registram tempos inglórios da violência da escravidão.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Imagem: Maria Simões
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