A biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte guarda uma obra das mais raras e importantes sobre o Brasil. Trata-se da primeira edição do Barléu, em latim, publicada pelo editor holandês Ioannes Blaev, datada de 1647, doação ao Instituto pelo engenheiro civil Antônio Pereira Simões, em 6 de novembro de 1902, data de sua posse como sócio da instituição.
A história do Barléu é também uma história de sucessivas edições, inclusive, traduzida para outros idiomas. A segunda edição em latim aparece em 1660 – ampliada com tratados sobre o ar, água, locais, junco, mel silvestre e mandioca brasileira pelo médico Gulielmi Pisonis, trabalho da ex Officina Tobiae Silberlin.
Em alemão, a primeira edição é de 1652 (cujo único exemplar resta na biblioteca da Universidade de Augsburgo), e a segunda de 1959. Em Holandês, sai em 1923; e em português nos anos de 1940, 1960, 1966, 1974, 1980, 2005 e 2018. Em inglês, 2011. Além da editora Forgotten Books lançar, em 2018, um fac-símile das versões em latim (1660) e alemão (1959).
Sendo registrado, no nosso Instituto, na época de sua doação, como “Guerra Hollandeza”, o trabalho tem título extenso: “História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil e Noutras Partes Sob o Governo do Ilustríssimo João Maurício, Conde de Nassau etc., Ora Governador de Wesel, Tenente-General de Cavalaria das Províncias-Unidas sob o Príncipe de Orange”. E por tão extenso, levou os leitores, o tempo e a história, a simplesmente chamar pelo nome do autor, o “Barléu”.
Gaspar Barléu (1584-1648) – Casparis Barlæi, em latim; ou, Kaspar Van Baarle em holandês – além de médico e professor de filosofia da então Escola de Amsterdã, era um escritor respeitado, autor de uma vasta e diversificada obra que incluía poesia e tratados de física, medicina, literatura, teologia, sociologia e filosofia, entre outros, reunindo mais de 150 obras entre livros, discursos, teses, artigos e poesias.
Barléu começou a escrever essa obra em 1645, e, durante os dois anos que dedicou à empreitada, adoeceu. Seu estado mental ficou tão precário que chegou ao ponto de se considerar feito de barro, e, por isso, recusava qualquer contato físico. Temia que, se esbarassem nele, ele poderia se partir em mil cacos. Teve triste fim. Foi encontrado morto em 1648, no poço do jardim de sua casa. Acredita-se que cometeu suicídio, mas há versões de que foi assassinado. Tudo inconcluso, mas o fato é que ele morreu.
O trabalho que leva hoje o seu nome registra as atividades do governo de Maurício de Nassau (1639-1644), pela Companhia das Índias Ocidentais no Brasil e alhures. Um rastro e uma herança da presença holandesa no Brasil, que não se apaga e que restou registrada no livro, cuja primeira edição é parte do acervo do Instituto.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e Pedro Simões
Imagem: Maria Simões
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