Reza a lenda, que, diz Cascudo, saiu do quengo de Manoel Dantas. Ei-la:
“Natal já hoje é antiga e será eterna como o mundo, porque nasceu envolta na lenda. Rezam velhas crônicas que quando Jerônimo de Albuquerque, no intuito de fundar uma cidade cujo nome lembrasse o natalício de Jesus de Nazaré, aproou para estas bandas, apareceu-lhe no convés da caravela que bordejava fora da barra, incerta do ancoradouro, uma criança divinamente bela que lhe apontou o rumo do porto seguro e do seguro abrigo. Vasta floresta cobria o solo rico de selva virgem do ser humano. O índio bravio passava de lado deslumbrado pelos clarões que iluminavam as florestas e amedrontado pelo som de vozes estranhas que estrondeavam como trovões. Havia a tradição de ser ali o paraíso escolhido pelo Senhor para lhe prestarem culto na terra”.
E o resultado de tudo isso é que surgiu a cidade do Natal.
Foi naquele dia, margeando o Potengi, que Jerônimo de Albuquerque encontrou, logo adiante, um plano alto. Examinou, verificou que havia condições e, assim, surgiu a cidade do Natal, em 25 de dezembro de 1599. Mas esse é o entendimento de Vicente de Lemos. Câmara Cascudo, Hélio Galvão e Olavo de Medeiros Filho pensam diferente. Eles consideram que Mascarenhas Homem foi o fundador da cidade.
Jerônimo permanece na lenda...
É certo que foi ele quem trouxe os potiguaras para o lado português, convencendo Ilha Grande, Pau Seco, Camarão e outros, celebrando, assim, a tal da paz em junho de 1599. E se tornou capitão-mor da Capitania do Rio Grande e, posteriormente, seria do Maranhão. Aqui, doou aos filhos, sabidamente, uma extensíssima sesmaria na ribeira do Cunhaú que daria origem ao engenho do mesmo nome, voltado à produção de açúcar.
Filho de índia e português, casado com uma índia, Jerônimo de Albuquerque Maranhão nasceu em Olinda, ano de 1548. Foi educado por jesuítas, sabia ler e escrever e dominava o tupi. Em 1614, estava no Maranhão combatendo os franceses e saiu vitorioso. Faleceu no Engenho Cunhaú no ano de 1618.
----
Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Pintura a óleo de Manoel Victor Filho, presente no livro “Grandes Personagens de Nossa História”, fascículo 6