Consta no museu do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte um dos possíveis retratos do índio Poti. Outros identificados, diferentes, por artistas diversos e anônimos, se verificam no museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano e numa tela de Victor Meirelles. Cada qual de um jeito e o do Instituto se parecendo muito com a figura presente no Compêndio da História do Brasil (1895), de José Inácio de Abreu Lima.
O do museu do Instituto, de autoria desconhecida, foi uma doação do governador Alberto Maranhão, no ano da fundação da instituição, 1902, constando como a primeira peça do museu. Mas não é só a retratação do índio que é ponto diverso. Há toda uma disputa antiga, perene e até então não pacificada sobre o seu local de nascimento.
Felipe Camarão é objeto de diversos trabalhos publicados nas revistas dos institutos históricos, que procuram registrar o seu local de nascimento, o qual é disputado por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. As datas supostas são 1580 ou 1601, sendo mais plausível esta última.
Poucos são os documentos da época que permitem atestar, com precisão, dados e fatos da vida do índio Poti. O Poti, porque comedor de camarão, da aldeia dos índios potiguares que se espalhavam pelo litoral da área que compreende os Estados em disputa pela sua filiação.
Um dos primeiros estudos biográficos sobre Poti aparece na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1867, que buscava, em projeto de construir a história nacional, a escolha dos seus heróis. Dentre eles, os bravos guerreiros índios que lutaram a favor dos portugueses contra os invasores que caíram no Brasil colonial, nos séculos XVI e XVIII. É Francisco Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, autor da aclamada História geral do Brasil, quem escreve.
O que se pode dizer, em resumo, em um perfil rápido e sucinto, ligeiro, como pede o espaço, mas não menos completo, cabendo o registro do essencial.
O índio Poti, Dom Antonio Felipe Camarão, ou apenas Felipe Camarão (1601?-1648), foi batizado pelos jesuítas em 1612, na aldeia de seu pai Camarão Grande, e escolheu Antonio por ser o santo do dia; Felipe, em homenagem ao rei de Espanha e Portugal, Felipe IV; e Camarão por ser tradução do seu nome indígena: Poti.
Batizado junto ao pai e aos irmãos, casou no dia seguinte com Clara Camarão. Combateu os holandeses na Bahia e ajudou Jerônimo de Albuquerque a conquistar o Maranhão. O rei das coroas de Espanha e Portugal lhe concedeu o Hábito da Ordem de Cristo, 40 mil réis de renda, patente de capitão-mor e brasão de armas por carta régia de 14 de maio de 1633. Afirmou ter 46 anos em 1647. Adoeceu e morreu no Recife em 1648.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Imagem: Maria Simões