Na galeria do museu do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte consta um retrato raro e parece que único de Manoel Ferreira Nobre (1824-1897), autor do primeiro trabalho sobre a história do Rio Grande do Norte: Breve notícia sobre a província do Rio Grande do Norte, publicado em 1877.
Consta que o retrato que figura no museu do instituto foi uma doação de Câmara Cascudo, benfeitor que trouxe para a instituição algumas peças que ainda hoje lá residem, como o meio berro do brigadeiro Dendê do Arcoverde, outra história curiosa que já foi lida neste espaço. Já uma primeira edição da Breve notícia de Ferreira Nobre consta na biblioteca.
É obra rara. Foi impresso fora, numa tipografia em Vitória, custeado pelo autor e vendido a dois mil réis. Sobre o livro sentenciou Manoel Rodrigues de Melo em 1971: “simples, modesto, baseado em parte, na tradição, mas contendo muita informação preciosa até hoje não superada pelos pesquisadores”.
Não se sabe se Ferreira Nobre nasceu em Natal ou em Ceará-Mirim, mas é certo que foi batizado na capital na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação em 1824. Câmara Cascudo e Antonio Soares saíram em busca de levantar a sua vida e foram eles que estabeleceram os pormenores que ora tratamos.
Era robusto, simpático, voz agradável, cabelo ondulado e castanho fino, olhos claros onde punha os óculos que usava e na cara ainda deixava uma barba suíça, pinta Cascudo. E foi de um tudo. Soldado da Pátria, oficial-maior da Secretaria da Assembleia Legislativa, ajudante de ordens da Presidência, deputado provincial, bibliotecário.
Em 1861, tomou parte da comitiva do presidente da província Leão Veloso e bateu o sertão a cavalo, tendo saído e voltado da capital de barco pelo litoral. As reportagens de Francisco Othílio Álvares da Silva que saíram no jornal O Recreio dão conta da aventura.
“Aposentado da Província, chefe de numerosa família, percebendo, da aposentadoria, exígua pensão dos cofres públicos, velho e pobre, viu-se forçado, fugindo de maior miséria, a dedicar-se à advocacia” – escreve Antonio Soares, que o tinha por patrono, no discurso de posse, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, 1949.
“Saindo de Natal, terra berço, Ferreira Nobre – completa Antonio Soares em seu discurso, ouçamo-lo falar – passou a morar na antiga Vila de Papari. Dali se transportara a outros distritos, toda vez que o chamavam a patrocinar pleitos judiciais ou a defender réus pobres, perante o Tribunal do Júri. Por fim, na última dessas vezes, quando se preparava para atender a um dos serviços forenses, morreu repentinamente, não se sabendo em que data e nem, ao certo, em qual dos distritos fora sepultado!”.
Mas Cascudo descobriu e acabou-se o mistério: Papari, 15 de agosto de 1897.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Imagem: Maria Simões (a partir de tela do acervo)