Luís da Câmara Cascudo é conhecido, e reconhecido, como um dos maiores folcloristas do Brasil. Autor de uma obra monumental na área do folclore e da etnografia, com destaque para o antológico Dicionário do Folclore Brasileiro, Cascudo tem uma produção consistente e assídua no campo da história, que se inicia já na década de 1920, com a publicação de Histórias que o tempo leva... e López do Paraguay.
Esta área do conhecimento ocupa um lugar de destaque no início de sua vida profissional. Em 1928, após se formar em direito pela tradicional Faculdade do Recife, Cascudo é nomeado pelo então governador do Estado do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, como professor interino da cadeira de História do Brasil, do tradicional colégio Atheneu Norte-Riograndense. Em 1933, defende uma tese do concurso público para o corpo docente do Atheneu, abordando o tema inédito “Intencionalidade do Descobrimento do Brasil”. A tese, defendida com brilhantismo, garante a sua efetivação como professor deste estabelecimento de ensino. Com a criação do Instituto de Música do Estado, a 31 de janeiro de 1933, Cascudo é nomeado professor de História da Música da instituição.
Concomitantemente à sua produção intelectual nas áreas do folclore e da etnografia, os livros com a temática histórica se estendem pelas décadas de 1930, 1940, 1950, 1960 e 1970, a partir de seu olhar aguçado sobre a sua terra e os seus personagens. Impossível não citar as obras História da cidade do Natal, Os Holandeses no Rio Grande do Norte, História do Rio Grande do Norte, Geografia do Brasil Holandês, Vida de Pedro Velho, Nomes da Terra, Uma História da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, além da tradução da obra do viajante inglês Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil. Destacamos também dois livros póstumos do autor: No caminho do avião... Notas de reportagem aérea (1922-1933) e A Casa de Cunhaú (História e Genealogia), publicados respectivamente em 2007 e 2008.
Não podemos esquecer, também, a extensa produção cascudiana como cronista, publicando nos jornais natalenses A República e Diário de Natal, a sua famosa coluna intitulada ACTA DIURNA, no extenso período de 1939 a 1960. Muitos destes artigos tiveram a história como foco principal e foram reunidos no O Livro das Velhas Figuras, iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, em parcerias com a Fundação José Augusto e o Sebo Vermelho, num total de 10 volumes, publicados nos anos de 1974, 1976, 1977, 1980, 1981, 1989, 2002, 2005 e 2008.
Inovador em tudo que fazia e sem se filiar a nenhuma escola acadêmica em suas pesquisas, Cascudo tinha uma visão única e singular sobre o estudo da história. Para ele, “o precioso da História é a documentação para o futuro e não o juízo decisivo e peremptório. Todos os contemporâneos, para o bem e para o mal, são testemunhas de vista, indispensáveis e ricas de notícia. Testemunhas e não juízes ou advogados. Todos testemunhas. O futuro estudará, confrontará e dará sentença. Muita gente pensa que a História é uma velhinha amável e covarde que aceita, por preguiça e senectude, as decisões dos contemporâneos. Todos nós julgamos escrever a História quando apenas escrevemos para a História”.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Daliana Cascudo Roberti Leite
Imagem: Maria Simões