No museu do Instituto Histórico e Geográfico podemos apreciar um retrato muito bem-posto, em poses senhoriais, dignos de sua época, da ilustre professora, escritora e poeta Isabel Urbana de Albuquerque Gondim (1839-1933), primeira mulher a ser admitida na condição de sócia efetiva do Instituto, em 29 de março de 1928.
Foi defensora do ensino público para as mulheres, dedicou a vida ao magistério e à escrita. Escreveu para revistas e publicou livros. Dentre eles, Reflexões às minhas alunas (1874), que chegou a segunda e terceira edições (1879; 1910), adotado, inclusive, pelos Conselhos de Instrução Pública.
Quando os voluntários da Guerra do Paraguai retornaram, foi ela quem fez a saudação, numa manhã de agosto de 1870. Dizem que foi em versos. Gostava de poesia e história. E até uniu os dois numa peça de teatro, Sacrifício do amor, drama de 1905. O volume está hoje na coleção de obras raras do Instituto.
Dona Isabel já era correspondente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, desde 1883. É também autora de um trabalho importante que narra, em pormenores, a deposição do líder revolucionário André de Albuquerque, o drama do ferimento e sua morte, que se chama Sedição de 1817 na Capitania, ora Estado do Rio Grande do Norte (1908).
Faleceu em idade avançada, e ninguém sabia quando tinha nascido. Omitia. Séria, composta, circunspecta, de pouca intimidade. Mais que isso, Cascudo dela disse: é a mais antiga escritora da cidade. Dizem que servia chá com torradas, já velhinha, nas tertúlias que promovia em sua casa para sacudir o marasmo da vida na capital.
Cascudo registra:
“Nas notas manuscritas que ela enviou para o Instituto Arqueológico, iniciou a biografia desta forma: Dona Izabel Gondim nasceu em Papari a 5 de julho de 18...
Januncio da Nobrega, então estudante, n’uma saudação à Dona Izabel, em data aniversalícia, perorou:
– Hoje, dia de alegria! Hoje que completais...
E, voltando-se para a homenageada:
– Quantos, Dona Izabel?
Dona Izabel, imperturbável:
– Siga seu brinde, Doutor Januncio, siga seu brinde...
O Instituto Histórico informa que nascera a historiadora no sítio “Ribeiro”, Papari, a 5 de julho de 1839”.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Imagem: Maria Simões