Manoel Varella do Nascimento (1803-1881) e Bernarda Dantas da Silveira (1821-1890) nasceram e morreram em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte. Manuel foi barão e Bernarda, baronesa por tabela, por graça de D. Pedro II, em 1874, e ao custo de 103$, pagos pelo título, 100$ à Alfândega e 3$ à Secretaria da Presidência Provincial, e o compromisso de construir uma escola cujas obras terminaram em 1878. Hoje, é escola estadual com o nome do seu benfeitor. No título concedido pelo imperador, ficou a escola como a razão da concessão: “pelos relevantes serviços prestados à instrução pública da província”.
Manoel Varella começou pequeno plantador e seus filhos também se tornaram senhores de engenho. Foi o primeiro, segundo Cascudo, a utilizar em Ceará-Mirim o cilindro horizontal, que trouxe do Recife, e a plantar a cana caiana. Sua fortuna aparece no inventário calculada em 717:748$370 (setecentos e dezessete contos, setecentos e quarenta e outo mil, trezentos e setenta réis), isso tudo não só em dinheiro, mas na forma de terras, fazendas, cavalos, gado, benfeitorias, escravos etc.
O barão era leitor dos jornais e andava, conta Nilo Pereira, em seu cavalo bem ajaezado, estribos de prata, para cima e para baixo pelo canavial. Também ia a cidade e costumava visitar amigos e correligionários. Quando ele vinha, diziam: – “Lá vem o barão”! E todo mundo tirava o chapéu à sua passagem.
Há dois retratos a óleo pintados por João Bindseil, em 1866: um retrata o barão; e o outro, a baronesa. O barão apresenta-o no fardão completo. Fardão que ele ostentava em solenidades, festas da matriz e cerimônias militares. Lá está ele, do jeito que Cascudo o descreveu: alto, seco, narigudo. Não difere da descrição de Nilo Pereira: magro, feio, longilíneo, nariz adunco.
O barão era do partido Conservador e chegou a deputado provincial (1868-1869); na carreira militar, foi de alferes (1828) a tenente-coronel da Guarda Nacional (1862), daí a origem do fardamento.
Morto o barão, a farda ficou guardada, conta Pereira, numa velha mala, até que foi doada ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Afirma Pereira: “lá [no Instituto] estava ela, bem arrumada, como se fossem os ossos do barão”. Hoje, restam as dragonas que estão em exposição, assim como o pente (marrafa) da baronesa.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
As imagens são reproduções dos retratos a óleo pintados por João Bindseil, em 1866. Um retrata o barão; e o outro, a baronesa. O barão apresenta-o no fardão completo. Fardão que ele ostentava em solenidades, festas da matriz e cerimônias militares. Os originais se encontram na Estação das Artes, em Ceará-Mirim/RN.
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