O cidadão natalense andava a pé, subindo morros, escorregando no chão de areia. Natal era dois bairros, Ribeira e Cidade Alta, separados por apenas um caminho de subir, e, assim, vinha num atraso que o tempo passava e nada mudava. O viajante inglês Henry Koster havia dito, quando visitou a cidade em 1810: “se lugares como esse são chamados de cidade, como seriam chamadas as vilas e aldeias?”.
Jornal só foi aparecer em 1832, O Natalense, e seria o primeiro. O fundador: padre Francisco de Brito Guerra. Exemplares em um volume encadernado são parte do acervo do Instituto. Não se sabe quando saiu o primeiro número. Impresso em tipografias de outras Províncias, chegava atrasado aos leitores e, por isso, padre Brito Guerra une-se a outros para resolver a questão.
Junto a Basílio Quaresma Torreão, José Fernandes Carrilho e Urbano Gondim, padre Brito Guerra fundou uma sociedade anônima para aquisição de uma tipografia e a contratação de um tipógrafo. O prelo foi adquirido no Recife – provavelmente, um dos dois modelos que circulavam no Brasil aquele tempo, o inglês Stanphone e o norte-americano Columbian.
A Tipografia Natalense foi oficialmente instalada em 2 de setembro de 1832, na Rua do Meio, Cidade Alta, e ali permaneceu até 1833, quando mudou para a Rua Grande, no mesmo bairro. Em 1835, a oficina estava na Rua da Alfandega, bairro da Ribeira, e, depois, nova mudança para a Rua Grande, na Cidade Alta.
O Natalense, que se autodenominava político, moral, literário e comercial, trazia como epígrafe a seguinte citação em latim atribuída a Erasmo: “Admonere voluimus, non mordere; prodesse, non lœdere; consulerc moribus homimun, non oflïcere” que se pode traduzir por “Quisemos admoestar, não afligir; aproveitar, não ofender; vigiar os costumes dos homens, não prejudicá-los”.
O próprio jornal informava aos leitores os locais da Província onde poderia ser adquirido: em Assu, Goianinha e em Natal, na Rua da Conceição, Cidade Alta.
Circulava aos sábados e, assim, parece que foi até o último número. O preço do exemplar era 80 réis; a assinatura quadrimestral saia por 2$000; a semestral, 3$200; e a anual, 6$000. Nem mais caro, nem mais barato que os outros. Era o preço. Deixou de circular em 1837, mas a tipografia continuou a imprimir outros periódicos até ser finalmente fechada em 1842.
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Este artigo é parte de uma série de textos voltados à divulgação do acervo do IHGRN e da história do Rio Grande do Norte, veiculada aos domingos no espaço cativo do Instituto na coluna Quadrantes do jornal Tribuna do Norte.
Artigo: Gustavo Sobral e André Felipe Pignataro
Imagem: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
Pesquisa: André Felipe Pignataro
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